Terra Indígena Arariboia: IFMA promove construção de projeto político pedagógico

Contribuir tecnicamente com o processo de construção, revisão e atualização dos projetos político-pedagógicos (PPP) de quatro escolas do povo Tentehar, nas aldeias Juçaral, Mucura, Barreiro e Lagoa Cumprida. Este é um do objetivos do projeto de extensão, desenvolvido pelo Instituto Federal do Maranhão (IFMA) Campus Porto Franco, “NEABI em ação: diálogos interculturais e os PPP na Terra Indígena Arariboia”.
Coordenado pelo pedagogo Cleidson Marinho e pela professora Suziany Nascimento, o projeto foi concebido a partir da necessidade das comunidades indígenas legalizarem suas escolas junto ao Conselho Estadual de Educação. “Atualmente a responsabilidade pela oferta da educação escolar indígena está a cargo das secretarias estaduais de educação, mas a transferência dessa atribuição que é era do MEC se deu sem mecanismos que pudessem assegurar as especificidades dessas escolas”, informou Cleidson Marinho.
O projeto vem sendo desenvolvido desde julho deste ano com previsão de conclusão em janeiro de 2022. Ele envolve cerca de 100 estudantes indígenas da educação básica, fundamental e médio, 30 professores indígenas e não indígenas que atuam nessas escolas, quatro caciques locais e três lideranças da Comissão de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Arariboia (COCALITIA). “Tem sido fundamental esse trabalho e apoio do nosso campus, envolvendo nossos professores e estudantes por meio do NEABI, para compreendermos melhor as dinâmicas culturais relacionadas ao processo de educação escolar dos povos indígenas e para as relações étnico-raciais”, avaliou a diretora de Desenvolvimento Educacional do campus, Suziany Leite Nascimento.
De acordo com o diretor-geral do Campus Porto Franco, Lindemberg Costa Junior, “o projeto abrange sujeitos individuais e coletivos da Terra Indígena”. São estudantes – adolescentes, jovens e adultos – e representantes das famílias – pais e ou responsáveis. “Também serão ouvidos as anciãs e anciãos, conhecidos pelos Tentehar, em sua língua, como Zaryi, termo utilizado para a mulher idosa e avó e os Tumui, termo referente ao homem idoso e avô, além de cantores das festas tradicionais”, sintetizou.
Participam, também, do projeto, dois mestrandos do programa de pós-graduação em Formação Docente em Práticas Educativas da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e dois técnicos da Unidade Regional de Educação de Imperatriz. “A promoção do diálogo intercultural, por meio de processos e instrumentos mediadores, de forma colaborativa, é condição fundamental para a construção de projetos político-pedagógicos das escolas indígenas”, afirmou Cleidson. “Trabalhamos numa perspectiva de caracterização dessas escolas como espaço de fortalecimento cultural e identitário”, complementou.
Resgate oral da história
A ação prevê a realização de quatro encontros locais, cada um com proposta, conteúdo, abordagem e metodologia distintas. “O principal propósito é alcançar um público diversificado, com perspectivas e seguimentos heterogêneos, permitindo mergulhos reflexivos sobre religião, cultura Tentehar, educação formal e informal”, explicou o coordenador. “Tais aspectos serão os fios condutores na identificação de parâmetros analíticos que apontem resultados promissores, tendo em vista, a práxis de uma educação escolar indígena que mais se adeque a realidade de cada escola, considerando a Terra indígena e as aldeias envolvidas”, destacou.
“A nossa proposta é ouvir os Tentehar, suas falas, suas sugestões e proposições e as vozes virão dos mais diferentes e variados integrantes da comunidade”, pontuou. “As suas aspirações serão compreendidas pela expectativa e perspectiva de uma educação que valorize, respeite, promova, ressignifique e resgate os preceitos culturais, materiais e imateriais”, assinalou. “O uso do idioma Tentehar será incentivado e valorizado nas expressões e falas dos sujeitos envolvidos”, ressaltou.
Com uso da metodologia da história oral, os extensionistas do IFMA pretendem reconstruir a história da comunidade e da concretização da educação escolar indígena nas aldeias abrangidas pelo projeto. Serão identificados os monitores bilíngues, os primeiros alunos, anciãs e anciãos da comunidade. A partir da gravação sonora das entrevistas, os depoimentos orais irão oferecer relatos importantes sobre a criação da escola , bem como para a transmissão de conhecimentos da cultura Tentehar como a sua história, territorialização, tradições, patrimônio material e imaterial e cosmologia, que poderão ser apropriados pelos elaboradores das ementas e componentes curriculares nos PPPs das escolas. Após essa etapa, o projeto irá culminar com a atualização e apresentação dos PPPs das escolas à comunidade, como produtos da ação de extensão, para o pleno conhecimento de instituições parceiras e órgãos de apoio.
Diálogo intercultural
O coordenador Cleidson Marinho destaca que já é possível constatar, como resultado do projeto, a contribuição para a promoção do diálogo intercultural, respeitando o processo histórico-cultural e a realidade contextual da Terra Indígena Arariboia, pelos professores e estudantes do Campus Porto Franco.
O projeto se propõe, também, a produzir trabalhos científicos, artigos e materiais acadêmicos e o desenvolvimento de projetos de pesquisa e ensino junto aos povos indígenas da região. Ele prevê, ainda, a disponibilização do PPP, aos professores, em e-book numa plataforma digital, após a sua estruturação e aprovação das pelas comunidades envolvidas. Ainda, a possibilidade de confecção de material audiovisual sobre o processo de construção, revisão e atualização dos PPPs.
Participam, ainda, do projeto, os professores Ana Raquel Alves, João Fernando Pereira Lima, Marcos Lopes Carlos, Patrícia Santos e Vanessa Maciel Silva, além dos estudantes Kayky Morais Lima, Kairo Milhomem Costa e Willani Santos Silva.
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